(...) O tempo da América estava acabando.
Não seria em meses nem em anos, mas em questão de décadas os Estados Unidos cairiam. Já estava acontecendo. Estava acontecendo bem diante dos olhos de cada americano e, no entanto, eles eram gordos e felizes demais com sua comilança e televisão por satélite para ver.
(...) O tecido da sociedade americana estava em farrapos. Só era preciso puxar um dos fios, e ele se desintegraria ainda mais depressa. Se não fosse tão arrogante, a América seria digna de pena. Tinha realizado tanto, mas, como Roma, sua ganância pelo poder e pelo domínio do mundo já estava acelerando seu ritmo rumo à sepultura.
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Sinopse: Não negociarás com terroristas...
Era uma madrugada fria em Cuba. Na calada da noite, cinco dos mais perigosos terroristas do mundo são secretamente retirados de suas celas na baía de Guantánamo, embarcados em um Boeing 727 e libertados. Seis meses depois, o agente contraterrorista Scot Harvath acorda bruscamente durante um ataque à sua casa e descobre que sua namorada, Tracy Hastings, foi baleada. Esse é apenas o começo do maior pesadelo de sua vida.
Numa série de atentados cruéis que reproduzem as pragas do Egito, um assassino frio e sanguinário está perseguindo e alvejando os parentes e amigos de Harvath. Afastado das investigações por ordens diretas do presidente dos Estados Unidos, o agente se vê obrigado a montar sua própria operação para encontrar e punir o responsável pelos atentados.
Tudo se torna ainda mais confuso quando ele fica sabendo que o governo quebrou o primeiro mandamento da guerra contra o terror e negociou a libertação de cinco prisioneiros de Guantánamo. Agora, tão importante quanto descobrir a identidade do assassino é entender o que levou o presidente a tomar uma medida tão desesperada e por que ele não permite que os terroristas libertados sejam caçados.
Harvath arriscará tudo — até mesmo ser acusado de traição — para descobrir a verdade por trás dos ataques. Sua determinação vai arrastá-lo a um confronto com um dos homens mais perigosos do mundo e o obrigará a fazer perguntas até então impensáveis sobre o governo e o país a que serviu durante toda a vida.
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Algo comum que ocorre no Brasil: temos mais uma série que foi lançada fora de ordem e descontinuada depois de duas publicações. Ser leitor por aqui demanda um certo nível de conformismo.
Publicado originalmente em 2007, O Primeiro Mandamento é o sexto livro da série Scot Harvath, de Brad Thor, que conta com 25 volumes.
Com uma narrativa descomplicada e parágrafos extremamente curtos, Brad Thor conduz o leitor a uma rápida viagem pelo mundo - que passa inclusive pelo Brasil - em meio a conspirações e intrigas. Um leitor ávido termina o livro em uma única sentada.
O agente secreto antiterrorismo Scot Harvath está na caçada de um terrorista sádico que ataca pessoas próximas em nome de uma vingança pessoal. Ele é um agente implacável, disposto a desobedecer ordens e correr o risco de ser preso por traição para eliminar o assassino sanguinário que ameaça seus pares. Scot não confia em ninguém para essa missão.
O Primeiro Mandamento é uma história rápida, repleta de ação militar, espionagem e conspirações. Um livro enxuto, com uma escrita ágil e o objetivo de envolver o leitor. Não tem enrolação! Porém, o enredo carece de maior profundidade e detalhes.
As personagens femininas são meros "penduricalhos" e não possuem nenhuma relevância. O autor não esconde suas posições políticas — nem tenta —, e é impossível ignorar o tom por vezes intolerante em relação a muçulmanos e imigrantes.
Por outro lado, essa leitura me fez refletir... como a visão geopolítica e a autopercepção do “ser americano” apenas se consolidaram ao longo dos anos.
O livro revela uma necessidade persistente de reafirmar o domínio e a superioridade dos Estados Unidos. Apesar da polarização interna, do desgaste da hegemonia global e da crise de confiança, o sentimento de superioridade é tão arraigado que o declínio moral do autoproclamado “guardião da democracia” parece irrelevante para eles. Continuam acreditando na própria retórica.
"(...) Os terroristas, as drogas, a onda de imigrantes ilegais. Tive amigos na Patrulha da Fronteira. É um crime, e só podemos culpar a nós mesmos. Como podemos chamar a América de nação mais poderosa do mundo se não conseguimos garantir a segurança de nossas próprias fronteiras? Estamos sendo invadidos e, se não fizermos alguma coisa imediatamente, em breve vamos acordar em uma América muito diferente — um país que não vai agradar nem aos mais liberais de nós." (p. 76)
Assim, após quase duas décadas, O Primeiro Mandamento soa atual. Sabemos que esse tom nacionalista defensivo e o discurso esvaziado de “combate ao terror” pós-11 de setembro justificaram práticas condenáveis que hoje voltam a ganhar espaço.
O Primeiro Mandamento é uma leitura escapista, com o objetivo de ser divertida. Se a retórica de excepcionalismo americano não é relevante e não incomoda, esse livro é uma boa opção para fãs de thrillers de espionagem com muita ação, momentos de tensão e reviravoltas.









