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Digno de Nota

segunda-feira, 20 de maio de 2013

[Conheça o Autor] O segredo por trás de Lars Kepler

Sempre trabalharam em livros que consideravam sérios e foi com o policial "O Hipnotista" - que escreveram para se divertirem - que Alexandra e Alexander Ahndoril, os autores suecos por trás de Lars Kepler, se tornaram conhecidos em todo o mundo.

Tudo começou com uma história de amor: por carta. A mãe da escritora sueca Alexandra Coelho Ahndoril nasceu em Cabeça das Mós, num "local que ninguém conhece porque é muito pequeno", perto de Sardoal, em Portugal. Quando tinha 12 anos foi viver em Lisboa e, como queria aprender inglês, colocou um anúncio no jornal procurando um "pen-pal" para ter alguém com quem se corresponder. "O meu pai, que era marinheiro, respondeu e ficaram noivos por correspondência", conta Alexandra, autora do policial "O Hipnotista" que escreveu em parceria com o marido, o escritor Alexander Ahndoril, sob um pseudônimo: Lars Kepler. "O navio do meu pai passou por Lisboa, estiveram juntos cinco dias e depois casaram. A minha mãe veio viver em Estocolmo. Foi muito romântico, apaixonarem-se por carta".

Foi por causa desta paixão que Alexandra Coelho nasceu na Suécia. Cresceu em Helsingborg, foi atriz e abandonou a carreira. Há dez anos resolveu aprender português e estudar literatura portuguesa. Pelo seu primeiro romance, "Castle of Stars" (2003), recebeu o Catapult Prize para melhor obra de estreia. Vive em Estocolmo com Alexander Ahndoril, dramaturgo e autor do romance "The Director", inspirado em Ingmar Bergman. Quando casaram, passaram a lua de mel em Portugal.

Queriam descansar entre os romances individuais e por isso atiraram-se a um policial, "O Hipnotista", que é o "best seller" nórdico dos últimos tempos. O projeto Lars Kepler começou porque estavam os dois sem fazer nada: tinham acabado, ao mesmo tempo, de escrever os romances assinados em nome próprio. "Quando se acaba de escrever fica-se invadido por um vazio, uma melancolia ou depressão... temos vontade de permanecer naquele texto. Já tínhamos falado muitas vezes da possibilidade de escrever em conjunto, mas nunca conseguimos fazê-lo. Começávamos sempre a discutir quando tentávamos. Cada um defendia os seus textos e a sua estética. Por isso, tentamos escrever sem ser como Alexandra e Alexander. Quisemos fazer uma coisa completamente diferente, um novo gênero, uma nova linguagem, noutro tom. E de repente Lars Kepler nasceu! Foi muito estranho", conta.

"O Hipnotista" tem como personagem principal Joona Linna, um comissário de polícia judiciária que tem de descobrir quem assassinou violentamente uma família inteira. Logo no início do livro, um adolescente de 15 anos de idade, o único sobrevivente desse massacre, é submetido a hipnose por um médico especialista, Erik Maria Bark, e confessa o crime. É o início da história.

Tudo o que está em "O Hipnotista" é ficção, menos as descrições das técnicas de hipnose e o trabalho dos polícias, que também segue as regras da profissão. "Queríamos escrever no presente, aqui e agora, e queríamos que o livro se lesse rápido", explica Alexandra. Alexander tem um irmão que é hipnotista e, num dos seus espetáculos, ela e o marido viram as caras das pessoas hipnotizadas - "era como se estivessem a dormir e, ao mesmo tempo, pareciam estar acordadas, era assustador e excitante ao mesmo tempo". Pareceu-lhes que o poder da hipnose era muito interessante para usar num livro. "E se ao se hipnotizar alguém chegássemos a respostas a que nunca se pensaríamos chegar? Num romance policial entra-se na cabeça do culpado." Exatamente como um hipnotista.

Caça ao homem

O que apareceu primeiro: o projeto ou o pseudônimo? "O projeto apareceu primeiro, decidimos escrever como se não fossemos nós mesmos. Quando o nome apareceu - Lars Kepler -, o tom apareceu com ele [risos] e também a parte aterradora, negra, da história. É muito importante para os autores o som que têm as palavras. O título do livro e o nome do autor fazem parte do sentimento que se tem quando se pega num livro", argumenta Alexandra.

Ao ler "O Hipnotista", não se consegue perceber quem escreveu o quê. "Muitos dos escritores que
trabalham juntos dividem os capítulos, ou os personagens, entre eles. Nós não fazemos assim. Escrevemos dentro do texto do outro. Sempre. Ele começa a escrever uma cena e eu escrevo a minha cena e depois mandamos por e-mail as cenas um ao outro." Mandam os textos por e-mail, na mesma casa? [gargalhadas]: "Estamos sentados mesmo ao lado um do outro. Recebo o texto do Alexander e continuo a escrever dentro do texto dele, alterando-o."

Claro que antes de chegarem a essa fase já tinham decidido o "plot", a intriga. "É muito inspirador escrever assim, temos sempre novos impulsos quando recebemos os textos do outro. Seria muito problemático se eu estivesse a escrever como Alexandra Ahndoril, a escrever da maneira como sinto a língua e como utilizo as metáforas. Mas neste caso, somos um só autor. Somos o Lars Kepler. Não sei como é que acontece, mas concordamos com tudo porque sabemos como é que o Lars Kepler escreve! [gargalhadas]. É muito estranho."

Foi na Feira do Livro de Frankfurt que há uns anos se começou a falar de "O Hipnotista". Não se sabia quem era o autor deste policial, mas dizia-se que podia ter sido escrito por Henning Mankell. "Era segredo naquela altura. Mandamos o manuscrito do Kepler para a nossa editora sem mencionar os nossos nomes", conta Alexandra. Por que é que fizeram isso? "Somos autores literários, queríamos que a obra de Lars Kepler fosse lida sem que nos estivessem a ver por trás. Queríamos mesmo que fizessem uma leitura isenta do livro."

Criaram então um e-mail fictício em nome de Lars Kepler, e apresentaram-se dizendo: "Eu me chamo Lars Kepler, sou um pseudônimo. Por favor comuniquem-se comigo através desta conta de e-mail".

É difícil tentar publicar o primeiro livro na Suécia, mas ser um policial facilita as coisas. Neste caso, uns dias depois do envio do manuscrito todas as pessoas da editora já o tinham lido. O editor não gostou de lidar com um autor que ele não sabia quem era. Começou a ficar muito preocupado e a achar que poderia tratar-se de um maluco. Pediu então para saber quem era Lars Kepler. "Respondemos por e-mail que só poderíamos revelar quem éramos depois de ele ter lido o livro até o fim." Só depois da confirmação de que "O Hipnotista" ia mesmo ser publicado é que Alexander e Alexandra Ahndoril revelaram a verdadeira identidade por trás de Lars Kepler. Na editora, só duas pessoas sabiam do segredo e foram obrigadas a manter sigilo: "A nossa ideia era escrevermos os livros do Kepler completamente incógnitos." Mas como, nos tempos que correm, é difícil promover um livro por e-mail, o editor detestou a ideia.

Quando "O Hipnotista" foi para as livrarias suecas na sua primeira edição, em Julho de 2009, não havia nenhuma fotografia do autor na contracapa do livro. Ninguém sabia quem era Lars Kepler e os jornais partiram à caça do autor misterioso. Os direitos de tradução foram vendidos para 29 países mesmo antes de o livro sair na Suécia, e a curiosidade tinha ganho enormes proporções.

Três semanas depois, o segredo foi descoberto. "Era Verão, não havia muitas notícias, e talvez fosse uma provocação existir alguém que não queria aparecer na mídia. Os jornalistas suecos decidiram fazer notícia disso e uma noite apareceram na nossa casa de campo no meio da noite com uma lanterna", diz Alexandra. A família estava a deitar-se, já estava escuro lá fora, quando viu pelas janelas uma estranha luz no jardim. "Quando abrimos a porta, apontaram aquele foco de luz para a nossa cara e disseram: 'Admitam. Vocês são Lars Kepler." [gargalhadas]

Os escritores não contaram aos amigos, nem sequer à família, que eram Lars Kepler. Mas não foram totalmente cuidadosos e por isso um jornal tabloide descobriu a verdade: "Nunca imaginamos que houvesse tal caça ao homem, ao Lars Kepler. Poderíamos ter sido mais cuidadosos, mas tivemos de criar uma empresa, e de registrar o nosso nome para passar os recibos."

Negaram? "Eu estava muito assustada. Seria um crime ter um pseudônimo? Não perguntamos nada ao nosso editor, sabíamos que ele iria ficar contente; no dia seguinte, enviamos um comunicado para todos os jornais. Enfiamos as nossas coisas no carro e regressamos a Estocolmo. Deixamos o frigorífico cheio de comida, foi mesmo caótico. As crianças tiveram de correr para o carro, outros jornalistas estavam se dirigindo para lá. Foi muito estranho, muito bizarro."

Ainda mais estranho quando pensamos que se trata do mundo dos livros. Acontece muitas vezes na ficção, mas poucas vezes na realidade.

Publicado originalmente no Ipsilon

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