"Assim, as ocorrências negativas, como doença grave ou a derrocada economia, eram frequentemente interpretadas como sinal da desaprovação divina. Para a maioria das pessoas, culpar a bruxaria - uma explicação que estava fora do seu controle e personificada numa mulher isolada da sociedade - era preferível a encarar a possibilidade de estar correndo risco espiritual.", p. 21
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Sinopse:
Connie Goodwin queria que 1991 fosse um ano exclusivamente dedicado aos estudos para sua dissertação de mestrado em Harvard. No entanto, por insistência de sua mãe, acaba indo para o interior do condado de Essex cuidar da reforma da casa da avó. Assim que se estabelece no antigo casarão, começa um mergulho inevitável no passado daquele lugar e fica especialmente interessada pela figura de Deliverance Dane, uma mulher reconhecida em sua época por curar doentes, receitando remédios e poções. É no condado de Essex que fica a famosa cidade de Salem, palco dos históricos julgamento de 1692, quando mais de 150 pessoas foram presas e acusadas de bruxaria e mais de vinte condenadas à forca. O episódio, considerado um dos mais infames da história dos Estados Unidos, ficou marcado como um triste exemplo de histeria coletiva, disseminada por uma comunidade em busca de vingança. Em certo momento, Connie tem certeza da existência de um "livro perdido" que guardaria os segredos da misteriosa personagem. Seriam remédios? Feitiços? A solução desse enigma é o impulso da história do livro, que investiga até onde pode ir o preconceito de uma sociedade contra alguns dos seus membros.
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Sou apaixonada por romances de ficção histórica e tenho uma "quedinha" especial por livros sobre bruxas. O Livro Perdido Das Bruxas de Salem estava encalhado na estante há anos, até que recebi um empurrãozinho de um desafio literário que decidi participar esse ano. Pois bem, foi uma surpresa muito boa!
Além dos dados históricos sobre a caça às bruxas que ocorreu no Condado de Essex da Massachusetts colonial entre fevereiro de 1692 e maio de 1693, o livro possui elementos que faz com que o romance seja uma leitura envolvente... mistério, intriga, romance e uma pitada de magia! Não é para menos, já que Katherine Howe é descendente de duas mulheres acusadas nos julgamentos de Salem e durante a narrativa percebemos sua intimidade com o assunto.
A protagonista, Connie Goodwin, precisa encontrar um tema para sua tese de doutorado e se depara com uma descoberta fascinante...a existência de um Livro das Sombras que pertenceu a Deliverance Dane, uma mulher acusada de bruxaria cujo nome não constava nos documentos oficiais da época. Sem querer ela havia encontrado uma possível fonte primária para sua dissertação, mas antes ela precisa encontrar o livro desaparecido. Assim, ela mergulha em uma jornada para desvendar quem realmente foi Deliverance, a origem do livro e seguir seu rastro ao longo dos séculos.
Alternando entre passado e presente, seguimos a história de Connie em 1991, Deliverance Dane e suas descendentes no final século XVII - mulheres obstinadas e resilientes. A vida e o destino dessas mulheres estão entrelaçados pela magia!
O vínculo entre mãe e filha é retratado com muita delicadeza no livro. A protagonista tem um relacionamento permeado por tensão e segredos com sua mãe, Grace, pois suas personalidades são opostas. Grace é uma mulher de espirito livre, mística, que leva uma vida despretensiosa. Por outro lado, Connie é uma mulher centrada, responsável e cética. Ela acredita naquilo que pode ser comprovado e não reconhece as crenças de sua mãe.
Ao longo da história, Connie descobre que as coisas não são tão "preto no branco", que existem forças além da nossa compreensão e isso a aproxima de sua mãe e a conecta com o legado de suas ancestrais. Connie vive uma transformação pessoal, ela passa pela fase de negação, autodescoberta e por fim aceitação do que ela realmente é.
Em meio a esses acontecimentos, Connie conhece Sam, um restaurador que conquista seu coração. Sam é um rapaz despojado, cativante, que consegue abrandar a seriedade de Connie. Esse romance adiciona certa leveza à narrativa que por vezes traz relatos inquietantes. Imagino o desafio de viver em uma época em que doenças, mortes repentinas e desastres naturais eram atribuídos a forças sobrenaturais, castigos ou maldições.
Porém, há um ponto negativo, achei o desenvolvimento do antagonista da história fraco. O leitor deduz facilmente quem é o vilão de tão previsível. Mas esse detalhe não ofusca a trajetória magica de Connie.
Algo que me chamou atenção e me deixou muito intrigada, foi a pontinha de dúvida lançada pela autora no livro... e se o julgamento de Salem não foi uma histeria coletiva? E se as mulheres acusadas realmente fossem bruxas e a magia real? E se... e se...
Talvez por conhecer a magia natural, esse livro tenha um significado mais profundo para mim. Ainda persiste a ideia equivocada de que magia é algo "de outro mundo" ou "sobrenatural". A magia nada mais é que transformar um desejo em realidade. Isso ocorre sempre que usamos o poder do nosso pensamento para nos posicionarmos como cocriadores da nossa própria realidade. Então, todos temos potencial de fazer magia. Mas isso é um assunto para outro momento.