A gente sempre se lembra da primeira vez. Não é o que dizem sobre sexo? Talvez isso seja mais verdadeiro quando se trata de um assassinato. Nunca me esquecerei de nenhum momento delicioso desse drama estranho e invulgar. Muito embora hoje, com o benefício da experiência e da visão retrospectiva, considero aquela uma performance amadora, ainda consigo me empolgar, por mais que não alcance a satisfação.
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A cidade de Bradfield se tornou o palco de um sádico. Corpos brutalmente torturados e assassinados foram encontrados em áreas frequentadas por homossexuais. Apesar de três assassinatos já terem sido praticados, a polícia local reluta em conectá-los. Até o momento estão sendo tratados como casos isolados, mas o chefe de polícia assistente John Brandon acredita estar diante de um assassino em série.
Decidido a levar essa linha de investigação adiante, Brandon convoca o psicólogo forense Tony Hill para auxiliar a investigação. A detetive Carol Jordan é encarregada de fazer a ponte entre Tony e a investigação policial. Agora, além de ter que lidar com o descrédito de seus colegas de trabalho e provar que é capaz de pegar esse assassino, Carol terá que estar de mente aberta para o novo tipo de abordagem que Tony Hill lhe apresentará. Uma nova perspectiva dos assassinatos pode fazer toda a diferença na caçada ao serial killer, também conhecido como Assassino de Bonecas.
Tony Hill tem a missão de desvendar os meandros dessa mente criminosa e traçar um perfil que traga alguma pista de sua identidade. Mas será ele capaz de mergulhar em uma personalidade doentia e manter-se são? Mesmo sendo um profissional experiente, a crueldade e requinte dos assassinatos é diferente de tudo que já viu.
Além disso, Tony precisa enfrentar fantasmas do passado e lutar contra seus próprios demônios. Os segredos que escondeu por tanto tempo o atormentam, mas enfrentá-los pode torná-lo vulneral perante a morbidez e perspicácia desse assassino impiedoso.
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O Canto das Sereias – primeiro volume da série policial Tony Hill & Carol Jordan da escocesa Val McDermid – é um thriller sensacional. Desde que assisti a adaptação britânica da série para a TV chamada Wire in the Blood – no Brasil recebeu o título de Rastros da Maldade – fiquei louca para conhecer os livros de McDermid. Minhas expectativas eram enormes, e confesso que tive receio de não atingi-las. Entretanto, O Canto das Sereias é incrível, daqueles livros que mesmo desconfiando da identidade do criminoso, a dúvida permanece até o momento da revelação.
Desde o início eu desconfiei de quem seria o Serial Killer da história, porém a certeza me escapava a cada nova pista ou revelação do perfil psicológico traçado por Tony Hill. Aliás, Tony é um dos melhores personagens que encontrei na literatura policial. Complexo, inteligente, inquieto, um tanto arrogante e que enfrenta certos conflitos psicológicos e emocionais. Achei genial a forma como foi traçada a personalidade de Tony – um psicólogo forense capaz de entrar na mente de um psicopata e entender suas motivações, mas que em segredo também possui transtornos. Tony sonda a própria consciência, mas falha ao tentar se autoavaliar. Ele tem um lado obscuro que me deixou com uma pulga atrás da orelha…
Diferente do último livro que li – Segunda Sombria – cujo enredo utiliza um psicoterapeuta para chegar ao assassino, mas de uma maneira isolada das ações da polícia; O Canto das Sereias interliga vários ramos investigativos e traça uma linha mais completa na busca do criminoso. Aqui, encontramos os laudos periciais, inquirição de possíveis testemunhas, pesquisas de campo, busca de informações em bancos de dados e etc, mas a cereja do bolo é o perfil psicológico que Tony Hill tem a função de traçar. Entrar na mente do assassino ao lado de Tony é ao mesmo tempo inquietante e excitante.
O Canto das Sereias foi originalmente escrito na década de 1990, um período em que os perfis psicológicos ainda eram vistos com desconfiança. McDermid transmite ao leitor essa atmosfera de suspeita, receio, a opinião ou apreensão desfavorável que os policiais demonstravam a respeito dos psicólogos forenses. Eles se sentiam ameaçados, como se o perfil traçado fosse um embuste para diminuir seu território de ação. Da mesma forma, Carol Jordan, por ser mulher em um ambiente dominado por homens, luta dia a dia para provar sua competência e ser vista como uma igual por seus colegas. Entretanto, Carol me pareceu muito dependente de atenção e afeto, comportando-se em alguns momentos como uma adolescente.
A escrita de McDermid é extremamente envolvente, a trama é repleta de cenas impactantes e a investigação segue uma linha que me deixou colada ao livro do início ao fim. O texto intercala períodos narrados em terceira pessoa, onde acompanhamos – na maior parte do tempo – os passos de Carol Jordan e Tony Hill, mas a autora também fornece informações através de alguns personagens secundários. Mas os capítulos mais empolgantes são os que transcrevem as ações do serial killer. Gente… é de arrepiar, com requintes de crueldade. As descrições nos transportam para dentro da cena, sob o olhar do psicopata.
Mesmo com alguns elementos clichês, comuns em romances policiais, o livro se tornou um de meus preferidos. Apesar de ter todos os livros publicados de Val McDermid, O Canto das Sereias foi minha estreia com a autora. Agora eu me pergunto… porque não li nenhum livro dela antes? Leiam sem medo de errar, pois O Canto das Sereias é genial!
PS: Eu adorava a série de TV e, na minha ânsia de assistir novamente, encontrei alguns episódios no YouTube. Segue o episódio 1 da primeira temporada.